A Igreja Católica realiza todos os anos a Campanha da Fraternidade juntamente com outras denominações cristãs. O texto-base é redigido por membros do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic). A direção geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) o aprova e inicia a campanha entre os católicos. O tema da Campanha da Fraternidade deste ano é “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e vem sendo trabalhado com os fiéis em todas as comunidades paroquiais do país, inclusive em Ribeirão Preto. A campanha deste ano condena a violência contra as minorias.
Tema condizente com a conjuntura
Mas o tema deste ano está sob bombardeio de grupos ultraconservadores da sociedade, inclusive grupos que se dizem católicos, porque o texto-base da campanha condena a violência contra mulheres, negros, indígenas e LGBTQIs. Além disso, desaprova o negacionismo em relação à pandemia e faz críticas à atuação das autoridades. Mesmo antes do lançamento da campanha na quarta-feira de cinzas, esses grupos já iniciaram um movimento pela internet pedindo que as pessoas não façam doações solicitadas para as obras sociais apoiadas pelas igrejas.
Os ataques nas redes são ferozes e acusam as lideranças das igrejas cristãs de terem aderido às “pautas abortistas e anticristãs”. Um dos nomes que tem encabeçado a campanha é o guru do governo de Jair Bolsonaro, Olavo de Carvalho, diretamente da Virgínia, onde reside. A principal crítica dos ataques é a parte do documento que menciona explicitamente a violência contra LGBTQIs. Isso porque os dados publicados se baseiam no Atlas da Violência para denunciar que 420 pessoas desse grupo foram assassinadas em 2018 no Brasil.
A campanha deste ano condena a violência contra as minorias
“Esses homicídios [de LGBTQIs] são efeitos do discurso de ódio, do fundamentalismo religioso, de vozes contra o reconhecimento dos direitos dessas populações e de outros grupos perseguidos e vulneráveis”, enfatiza o documento. Em tempo, vimos semana passada as cenas chocantes que circularam nas redes aqui em Ribeirão, mostrando um morador de rua sendo violentamente agredido por um maitre de uma churrascaria nos Campos Elíseos. Em outras palavras, vivemos em uma sociedade em que as pessoas são descartáveis e só valem pelo que possuem. A campanha deste ano condena a violência contra as minorias.
“Jesus questionou essas estruturas de poder e desigualdade. As pessoas não poderiam ser descartadas e sofrer as consequências para a manutenção de um poder segregador”, afirma o padre Antonio Frizzo, um dos organizadores da campanha. A Aliança de Batistas do Brasil repudiou a campanha dos ultraconservadores e afirmou que os ataques estão sendo direcionados em especial a lideranças femininas, “além do cunho antiecumênico, são carregados de misoginia indisfarçável”. Em nota, a CNBB firma que o ecumenismo não é apenas uma questão interna das comunidades cristãs, mas diz respeito ao amor que Deus, em Cristo Jesus, destina ao conjunto da humanidade”.
Agenda bolsonarista é anticristã
A pastora luterana Romi Bencke, secretária-executiva do Conic, é um dos principais alvos dos ataques. Em entrevista à Carta Capital, a religiosa afirma que muitos deles acontecem porque a entidade assinou um pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. “Toda a peça do impeachment está centrada na anti-política do atual governo em relação à contenção da propagação da pandemia. Os temas que estão no foco de ataque destes grupos que criticam a Campanha fazem parte da agenda bolsonarista”, afirma Romi.
Por fim, a pastora afirma que Bolsonaro utiliza a religião para propagar seu discurso de ódio. “Sabemos que estes temas são parte da agenda da cultura política bolsonarista que utiliza de maneira muito eficiente o discurso religioso para ganhar apoio político e desmoralizar as críticas da sociedade civil e até mesmo de lideranças religiosas”, afirma. Sem dúvida, a pastora tem toda a razão, pois vemos, quase diariamente, as juras de apoio incondicional que os profetas do palácio prestam à besta do apocalipse como os Malafaias, os Macedos e os Waldomiros da vida.
O jornal TRIBUNA publicou este artigo no último sábado, dia 27/02/2021
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