Vinícius Barros tem 33 anos, é formado em História, fotógrafo profissional e gestor de projetos culturais. Chegou no Memorial da Classe Operária – UGT em 2011 para integrar a equipe de coordenação do Pontão de Cultura Sibipiruna e permanece até hoje como gestor e pesquisador. Nessa entrevista, publicada no jornal Tribuna em 13/04/18, retorno ao Memorial para conversar com ele e partilhar com você o que tem acontecido para manter o espaço vivo e significativo. Acompanhe!
Professor Lages – Sabemos que a sede da antiga UGT, hoje Memorial da Classe Operária, é um prédio tombado. Qual o sentido deste tombamento para a atualidade?
Vinícius Barros – O sentido do tombamento é a preservação do bem histórico arquitetônico e com ele a preservação do seu significado cultural e político. No caso do Memorial, preservam-se valores como as lutas coletivas por direitos humanos e sociais, a visão de cultura como manifestação popular e livre, a democracia como espaço de participação política etc.
Este espaço foi, desde a sua construção, a sede da antiga UGT e, posteriormente, local também de referência do movimento negro na cidade. Existe alguma preocupação com o resgate dessas antigas ocupações e tradições do espaço?
Sim, temos um projeto intitulado “Memória em Movimento” que vem aos poucos levantando informações sobre esses períodos. Está em fase de finalização, por exemplo, o documentário do MCO-UGT, com entrevistas riquíssimas sobre essas histórias. Além disso, a Associação Amigos do Memorial da Classe Operária – UGT vem há alguns anos enviando projetos para editais com o intuito de dar mais consistência à essas pesquisas.
Desde o tombamento em 2004, como o espaço tem sido ocupado?
O espaço passou por um período de criação dessa ocupação desde o tombamento e a reforma. Até 2004 destaque para a atuação da ONG Pau Brasil e do Seminário Gramsci. Em 2011 inicia-se o trabalho do Pontão de Cultura Sibipiruna, ação cultural com apoio do Ministério da Cultura. A partir daí há um fortalecimento muito grande da AAMCO-UGT e do espaço com mais infraestrutura. Hoje muitos grupos culturais e de outros movimentos requisitam o espaço para eventos.
Qual tem sido o papel da Pau Brasil e da AAMCO-UGT na preservação do espaço e da difusão dos seus objetivos?
Principalmente na captação de recursos para a manutenção física do espaço e na elaboração/execução de projetos, sejam eles ambientais, educacionais ou culturais. As duas entidades são muito representativas.
Parece que UGT e cultura combinam bem. Por quê?
Porque desde a sua origem esse espaço teve na cultura um ponto de convergência e aglutinação. Todos os grupos e movimentos que atuaram e atuam nesse local enxergam o papel central da cultura e fomentam esse trabalho.
Quais os principais e mais recentes projetos foram desenvolvidos no espaço?
Para destacar dois mais recentes executados pela AAMCO-UGT, cito o “Baixada Cultural”, projeto que teve apoio do Proac-Edital do Governo do Estado, seu principal objetivo foi promover difusão e formação cultural no Memorial de seu entorno; outro projeto foi o que resultou na publicação do livro “Ribeirão Preto Revisitada” sobre a história da cidade do autor Professor Lages, com apoio do PROAC-ICMS.
Várias entidades e movimentos utilizam o espaço do Memorial. Quais são eles e o que explica esta identidade com o espaço?
Diria que o que explica a identidade dos movimentos com o Memorial é a sua conduta histórica como polo articulador político, sempre ideologicamente próximo dos movimentos populares.
Este espaço foi muito conhecido pelas gerações mais velhas como União e era sempre uma referência a bailes, festas e outros encontros. Estes bailes, festas e encontros continuam acontecendo? Com que sentido?
Sim, porém não são mais conhecidos como “bailes”, agora são “baladas”. Esses eventos têm como objetivo movimentar o espaço e captar recursos para a manutenção física e pagamento de custos administrativos. São também uma forma de valorização de artistas, principalmente na música.
Podemos dizer que há uma grande identidade da juventude com o Memorial da Classe Operária na atualidade? Por quê?
Acreditamos que sim, muito por mérito da atuação do Pontão de Cultura Sibipiruna, que deu força para uma série de movimentos culturais que nasceram a partir do espaço ou com ajuda dele, como por exemplo o Se Vira Ribeirão (2012-2015). As festas e outros projetos só vem reforçando a colocação social do Memorial hoje.
E daqui para frente? O que está na agenda do Memorial? Quais são os desafios e os planos?
Temos o objetivo de aumentar a capacidade do Memorial enquanto centro de pesquisa e documentação, principalmente sobre a história dos movimentos sociais. Para isso, será necessário captar fundos a partir de editais culturais e outros. Tem sido uma de nossas principais ações essa busca.