Em interessante artigo de Sergio Saraiva com o título “Bolsonaro e o brasileiro medíocre”, publicado no jornal CGN há alguns meses, encontramos uma interessante análise sociológica deste fenômeno recente da história política brasileira que é a “saída do armário” da extrema direita, agora com o nome de Bolsonaro. Para aquele conhecido blogueiro, a candidatura Bolsonaro representa um estrato socioeconômico bem definido da sociedade brasileira e que precisa ser considerado como importante. Ele os denomina de “apolíticos revoltados”.
Foram eleitores de Aécio em 2014, muitos deles foram às ruas vestidos de verde-amarelo e com um pato amarelo pedindo o impeachment de Dilma e, depois, decepcionados com tudo e com todos, desaguaram no colo do político carioca. Estes eleitores são uma força política considerável e se percebem assim. Por isso, até uma certa arrogância que marca quase sempre os seus discursos virulentos que proliferam nas redes sociais. E não dá para desconhecer que boa parte das narrativas de ódio que se confrontam hoje na sociedade tem sua origem naquele estrato.
Saraiva nos traz à lembrança o grande escritor e ensaísta italiano Umberto Eco, que afirma que são exatamente estes “apolíticos revoltados” que serviram de massa, em alguma de suas múltiplas facetas, para a implantação do fascismo em qualquer lugar do mundo, principalmente na Itália a partir dos anos 1920. Ainda que Bolsonaro sequer se entenda como um fascista ou, ele e seus eleitores tenham qualificação suficiente para entender o que venha a ser o fascismo. Reina neste campo a mais absoluta ignorância.
Uma pesquisa Datafolha publicada em dezembro do ano passado, quando Bolsonaro não havia ainda alcançado 20% do eleitorado, há alguns dados muitos interessantes em relação aos eleitores de Bolsonaro. O que mais chama a atenção é que seu eleitorado é essencialmente masculino – 64%. 67% deles não têm preferência partidária. Nem poderiam. Acredito que nem 10% deles saibam em que partido Bolsonaro esteja filiado. Algum deles sabe o que significa a sigla PSC (Partido Social-Cristão), a que ele estava filiado até cinco meses atrás? Algum deles sabe alguma coisa do que significa a qualificação “social-cristão”? Por aí, já podemos tirar várias conclusões.
Mas existem algumas revelações da pesquisa ainda mais preocupantes. Seu eleitorado é essencialmente jovem – 59% têm até 34 anos. Nascidos a partir de 1993, não sabem o que foi a ditadura. Talvez nem tenham estudado este período na escola. 58% dos eleitores de Bolsonaro têm escolaridade de nível médio. Índice do qual também nenhum outro candidato se aproxima. Nota-se um forte componente evangélico entre eles – 40% deles se dizem evangélicos. Mas a maioria é católica 45%. Quando perguntado sobre a cor da pele, o eleitor de Bolsonaro se diz branco – 40% ou pardo 39%, mas não se considera preto – 14%. 50% dos eleitores de Bolsonaro estão no Sudeste e tiram muitos votos do PSDB.
Tenho colecionado algumas pérolas de eleitores bolsonaristas quando se deparam nas redes sociais com qualquer postagem que não lhes agradam politicamente. São deprimentes. Algumas se confundem com puro xingamento. Eles não conseguem reagir diante delas sem lembrar de Lula e do PT. Todo o seu discurso é construído tendo como alvo de combate o Lula e o PT. Parece uma verdadeira cruzada. Sem dúvida, tem toda razão Sérgio Saraiva quando nos chama a atenção para este bem definido estrato socioeconômico, mas eu acrescentaria agora – também político, da sociedade brasileira: os “apolíticos revoltados”.
(Texto originalmente publicado no jornal Tribuna de Ribeirão Preto, SP)