Como vimos na primeira parte deste artigo, os eleitores de Bolsonaro não têm preferência partidária. Não dão a mínima para os partidos, assim como o próprio Bolsonaro. Partido é simplesmente um instrumento cartorial para o registro da candidatura e a disputa das eleições. Ele estava no Partido Social Cristão (PSC) até poucos meses atrás. Namorou o PEN do Adilson Barroso da nossa vizinha Barrinha (!), fez o partido até mudar de nome para “Patriotas”, bem ao gosto da extrema-direita, mas acabou mesmo foi no Partido Social Liberal. Nem Bolsonaro nem seus seguidores dominam conceitualmente qualquer coisa sobre este “social” e este “liberal”. Não importa.
O eleitor de Bolsonaro não se interessa por política. Mas foi capturado pelo clima de contestação que tomou conta do Brasil a partir das grandes manifestações de 2013 e que a esquerda não soube entender e administrar em seu benefício. Na política, assim como na física, não existe espaço vazio. Hoje o bolsonarista é um militante apaixonado. Ele não se sente representado pelas forças políticas que tomaram o poder com o Golpe de 2016. Pela pesquisa Datafolha de novembro do ano passado, apenas 5% dos eleitores de Bolsonaro consideravam o governo Temer ótimo ou bom. 67% o consideravam ruim ou péssimo. Não admitem mediações em política. É ele e o seu candidato Bolsonaro. Simples assim…
A última pesquisa realizada pela CNT/MDA há duas semanas, em um dos possíveis cenários sem a presença de Lula na disputa presidencial, Bolsonaro (PSL) crava 18,3% do eleitorado, ficando em primeiro lugar. Mas com 45,7% de indecisos, nulos e brancos (!) O PSDB e seu candidato Alkimin com 5,3% está sendo banido do cenário político. Liderou o golpe de 2016, mas os escândalos que também o atingiram e sua pauta escandalosamente antipopular o tiram da disputa. O PT pode manter a candidatura de Lula até o último momento, mas a aposta de que seus eleitores (34%!) farão o mesmo até o dia da eleição, é temerária. Se o fizerem, e eu não sei se a boa inteligência do PT deseja isso, torna-se possível um segundo turno em que Bolsonaro tem tudo para estar presente.
Tenho colecionado algumas pérolas de eleitores bolsonaristas quando se deparam nas redes sociais com qualquer postagem que não lhes agrada politicamente. São deprimentes. Algumas se confundem com puro xingamento. Eles não conseguem reagir sem lembrar de Lula e do PT. Todo o seu discurso é construído tendo como alvo de combate o Lula e o PT. Parece uma verdadeira cruzada. Sem dúvida, tem toda razão Sérgio Saraiva quando nos chama a atenção para este bem definido estrato socioeconômico da sociedade brasileira: os “apolíticos revoltados”. Finalizamos com aquela sensação angustiante: ainda pode ficar pior…
(Texto originalmente publicado no jornal Tribuna de Ribeirão Preto, SP)