O Armazém Baixada, de Jonas Paschoalick é um espaço de lazer bem no centro de Ribeirão Preto, que tem mostrado uma forte pegada multicultural. O Armazém tem um público bem diverso, exatamente a cara do centro da nossa cidade e tem ajudado a dar mais vida à Baixada. Nessa entrevista, publicada no jornal Tribuna em 18/02/19, conversamos sobre o espaço e seu potencial.
Professor Lages – Jonas, como é que você definiria o Armazém Baixada? O que é o Armazém Baixada para as pessoas que se identificam com este espaço?
Jonas – Lages, o Armazém Baixada surgiu para mudar um pouco a cara, a estética e o jeito que a cidade via a noite de Ribeirão Preto. A ideia de abrir o Armazém Baixada surgiu da percepção de que havia uma lacuna na produção da noite ribeirão-pretana. Tanto de espaços que estivessem funcionando quanto do repertório musical oferecido. Você tinha as bandas de fora participando dos cenários alternativos, como nos grandes festivais como o João Rock, a Virada Cultural ou um outro grande evento. Outra vertente veio da UGT à época do pontão Sibipiruna e dos movimentos que lá surgiram como o Se Vira Ribeirão, uma verdadeira escola de produção da parte da música e de outras expressões artísticas. Aí surgiu a ideia de um espaço permanente e maior que comportasse shows de médio porte. Mas não era possível de ser um espaço requintado, tinha de ser a baixo custo para que fosse possível custear o valor dessas bandas e garantir uma acessibilidade de público. E aí corremos atrás para concretizar a ideia: pegar um galpão abandonado e transformá-lo em um espaço de eventos, que fosse no centro, na Baixada, porque aqui tem um potencial de vida noturna muito grande. Por aqui passaram bandas de grande e médio porte. Nós já trouxemos a banda Black Veil, o Jards Macalé, Gerson Filipombo, Orquestra Voadora, o Bixiga Setenta, bandas que movimentam bastante público. Então, o Armazém mudou o conceito do que era um espaço para shows e eventos aqui em Ribeirão. Não é uma boate, não é um pub, mas um espaço de eventos.
Sabemos que no início do século XX, a Baixada era um verdadeiro cartão postal de Ribeirão, onde desciam os viajantes, geralmente os granfinos, aqui na Estação da Mogiana, que ficava aqui ao lado. E aqui é que havia as casas de shows, bares, restaurantes, aqui rolava a noite ribeirão-pretana. Vocês levaram isso também em conta ao escolherem justamente a Baixada para este empreendimento, como um resgate histórico? Pois sabemos também que durante muito tempo esta área foi relegada ao esquecimento, assim como o próprio centro de Ribeirão padece ainda deste esquecimento até por parte do Poder Público. Mas percebemos também que recentemente há várias iniciativas de revitalização dessa região que tem muita história e muita memória.
Tem este lado sim. Mas acho que ainda é um cartão postal, é só perceber os belos prédios da José Bonifácio em processo de tombamento. Surgimos da experiência da UGT que também é um prédio tombado, memorial de muita história de luta do passado, mas que no presente já veio desmistificando este caráter marginal e relegado. Percebemos que aqui era um local todo especial, exatamente por propiciar o encontro de toda a diversidade do nosso povo, exatamente a diversidade que nós esperávamos para o nosso público. O centro é onde converge um público diverso e este baixo centro poderia fazer o diferencial: se ninguém olha pra cá, vamos nós mesmos olharmos para cá e agregar esta diversidade. Mais ou menos como acontece com a Rua Augusta na capital. E depois de abrirmos o Armazém, eu mesmo fiz o convite para muita gente: vem pra Baixada, ela pode se transformar em um grande polo da vida noturna e cultural de Ribeirão. A Casa das Artes já veio pra cá. E muita gente e instituições pensando justamente isso: não deixar morto o contraturno da Baixada. Fora do horário comercial, o centro e a Baixada ficam mortos. Então, é a hora de preenchermos este vazio, é hora de fazermos este resgate. É um espaço vazio mas tem história, tem memória, tem prédios antigos muito bonitos. É um espaço boêmio, esta é a essência da Baixada que estamos resgatando.
Qual é o público que se identifica com o Armazém Baixada? Tem um público específico? Ele está ainda em formação?
Nosso público é tão diversificado quanto nós esperávamos que fosse mesmo. Como movimentamos muitos estilos de som diferentes, nós mobilizamos um público muito diverso, e como temos a proposta de construir este novo conceito de casas noturnas em Ribeirão, recebemos aqui pessoas desde a “alta sociedade” até moradores de rua. As pessoas até comentam: no Armazém, você vê de tudo, tudo quanto é tipo de gente. Esta é a nossa cara. E é a que queremos ter. E que é também a cara da Baixada, a cara do centro de Ribeirão, esta é a cara da diversidade.
Além de ser um espaço do lazer, da diversão, da música, das bandas que tocam aqui, percebo que vocês têm também uma pegada cultural em termos de formação das pessoas. Isso é ao acaso ou faz parte de um escopo planejado da casa?
Nós trouxemos para o Armazém essa tradição das nossas relações que já tínhamos com o mundo: o fazer cultural lincado com um posicionamento político. Por isso é que nos preocupamos em trazer para cá outras manifestações culturais. Já tivemos aqui peças de teatro, apresentações de dança, maracatu, afoxé, capoeira. Aqui não é só balada, mas queremos consolidar este espaço como um espaço de fomento de atividades culturais que adota uma posição política, não apenas em relação às políticas públicas, mas em relação à política mais geral, seja em nível da cidade, seja em nível de país.