Realmente, se basta apenas um soldado e um cabo para fechar o Supremo Tribunal Federal, a nossa Democracia corre um seríssimo risco nas eleições de amanhã. As reiteradas manifestações do presidenciável da extrema-direita e da sua família em desapreço às bases da nossa vida democrática, construída a duras penas pelo nosso povo, são um alerta para o perigo de entregar o mais alto cargo da República a um tresloucado que está disposto a tudo para voltar aos tempos da ditadura. E isso com apoio do grande capital, da grande mídia, de boa parte das igrejas, e da parcela mais reacionária e ignorante da sociedade.
Falar em fechar o STF não foi apenas um rompante do garoto, advertido logo em seguida pelo pai. Não foi. Este é o projeto. E só não o farão se não tiverem condições de fazê-lo. “Pelo que vejo nas ruas, não aceito resultado diferente de minha eleição”, disse o candidato da extrema-direita em entrevista ao programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, no dia 28 de setembro. Parece até que não há uma presidência da República em disputa, apenas um ritual para confirmá-lo como próximo mandatário. E na recente manifestação de bolsominions de domingo passado na Avenida Paulista, o candidato mandou uma mensagem alto e bom som: “vamos varrer do mapa os bandidos vermelhos”.
Reações vieram dos próprios ministros do STF, todos na mesma linha ao afirmarem que atacar a Justiça é atacar a Democracia. Rosa Weber, Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, tentando jogar água fria na fervura, disse que “as instituições estão funcionando normalmente e todos os juízes honram a toga e não se deixam abalar com qualquer manifestação”. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi mais enfático: “As declarações do deputado merecem repúdio dos democratas. Prega a ação direta, ameaça o STF. Não apoio chicanas contra os vencedores, mas estas cruzaram a linha, cheiram o fascismo”.
No entanto, mais estarrecedor foi o próprio Presidente do STF, Dias Tóffoli, em evento pelos 30 anos da nossa Constituição Cidadã, considerar o golpe civil-militar de 1964 como apenas um movimento… O conhecido blogueiro Leonardo Sakamato, então, pergunta na sua coluna: “Para Tóffoli, um soldado e um cabo fechando a Casa que ele presidente seria um golpe ou um movimento?” Trata-se de uma minimização grosseira do que foi o Estado de Exceção e uma falsa equivalência entre as responsabilidades da ditadura e dos contrários a ela, na visão de Sakamoto. Tóffoli ainda disse que o erro das Forças Armadas foi não terem saído após o golpe e não o golpe em si. Isso vindo de um alto magistrado é de arrepiar os cabelos.
O mundo inteiro está de olho do que vai acontecer amanhã no Brasil. Membros do Parlamento Europeu chegaram a organizar um evento no último dia 16 intitulado: “Democracia Brasileira em Risco”. Reunindo representantes de todo o espectro político, o evento teve o único objetivo de manifestar publicamente a firme oposição ao candidato da extrema-direita à presidência do Brasil, cuja trajetória política e declarações públicas claramente se contrapõem aos princípios básicos do Estado de Direito. O evento ressaltou que o candidato promove o enaltecimento da ditadura, além da discriminação das mulheres, negros, gays e do desdém pelos pobres, representando assim uma cultura do ódio.
(Texto originalmente publicado no jornal Tribuna de Ribeirão Preto, SP)