“Cristão e conservador”. Assim se define, em seu perfil no Twitter, o policial penal federal Jorge Guaranho, assassino do guarda municipal e tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu/PR, Marcelo de Arruda. Guaranho entrou no clube onde a vítima comemorava seu aniversário, gritando “aqui é Bolsonaro”. O local onde se realizava a festa era a sede social da Associação Recreativa Esportiva Segurança Física de Itaipu (ARESF), de cuja diretoria já participou. A princípio, as investigações confirmaram que eles não se conheciam. Guaranho já havia sido detido no Rio por ofender policiais. Bolsonarismo mata e já começou a matar.
Claro incentivo à violência e ao ódio
A linha do tempo do perfil de Guaranho é preenchida, em grande parte, por mensagens publicadas originalmente por aliados do presidente Bolsonaro. Ali estão Sérgio Cabral, ex-presidente da Fundação Cultural Palmares, o cantor Latino, o ex-ministro e pré-candidato ao governo de SP, Tarcísio de Freitas, e o senador e filho do presidente, Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Do mesmo modo, entre suas próprias mensagens, há inúmeras de apoio ao presidente, uma selfie com o deputado Eduardo Bolsonaro, críticas à Rede Globo e ao ministro do STF, Alexandre de Moraes.
O fato demonstra a que ponto podem chegar os defensores das ideias e valores que chamamos de “bolsonarismo”. Seja como for, não podemos dissociar este crime ao claro incentivo do presidente à violência e ao ódio que resultam inevitavelmente em morte. Na campanha eleitoral, quando passou pelo Acre em 01/09/2018, Bolsonaro, usou o tripé de uma câmera como arma e insuflou os seus apoiadores gritando: “Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre. Vamos botar esses picaretas para correr. Já que gostam tanto da Venezuela, essa turma tem que ir para lá. Só que lá não tem nem mortadela. Vão ter que comer capim mesmo”.
Cristianismo e violência não combinam
Mas o que tem o cristianismo a ver com tudo isso? Não venha me dizer que essas declarações não passam de brincadeiras do presidente. Não são! As pesquisas eleitorais mostram que a maioria dos que se autointitulam evangélicos pretende reeleger o presidente, identificando-se com as suas políticas. Assim também, existe uma bancada evangélica no Congresso que é base de sustentação do seu governo. Existem pastores midiáticos como Malafaia, Waldomiro e Macedo que o apoiam. Além disso, existe uma vereadora evangélica na Câmara de Ribeirão, cujas propostas e opiniões comungam com toda essa ignorância e preconceitos destilados por Bolsonaro.
Como essas figuras públicas conseguem juntar o cristianismo com essas ideias e ações sabidamente inspiradas em preconceitos – misoginia, racismo, homofobia, machismo – além de defesa da tortura e da violência contra opositores como o crime de Foz do Iguaçu? Nem estamos falando do genocídio de que foram vítimas mais de 600 mil pessoas na pandemia. Sabemos que grande parte das mortes foi decorrente das ações de Bolsonaro contra a existência da pandemia, depois contra as medidas de restrição, e, por fim, contra até mesmo a imunização pelas vacinas. O que tem o cristianismo a ver com isso?
Um cristianismo sem o Evangelho
Em suma, trata-se de um cristianismo sem o Evangelho de Jesus de Nazaré! Já escrevi isso. Antes de tudo, trata-se de um cristianismo que se inspira somente no Velho Testamento. Outro dia, um amigo evangélico me alertou sobre isso. Concordei com ele. Disse-me que, na grande maioria das igrejas evangélicas, nos louvores e a na Palavra, só se ouvia textos do Antigo Testamento. Então, trata-se de um cristianismo judaizante (você se lembra do Templo de Salomão no Brás?). A religião é o caminho para a vida e para a morte. Afinal, cada um faz a sua escolha. Essa manipulação da fé das pessoas está conduzindo, inevitavelmente, ao caminho da morte.
Uma das narrativas mais emblemáticas desse caminho para a morte está no primeiro livro de Reis, 18:24. Em síntese, trata-se do desafio lançado pelo profeta Elias, na defesa do seu deus Javé, contra os 450 profetas de uma divindade inimiga, e que resultou em uma carnificina: “Elias disse ao povo: ‘prendei os profetas de Baal; que nenhum deles escape!’ E o povo os prendeu. Elias fê-los descer para o ribeiro do Quison e lá os trucidou”. Se você quiser encontrar várias passagens como essa no Antigo Testamento, você encontra. Mas no Novo Testamento, você não encontrará nenhuma! Enfim, o cristianismo de Bolsonaro e dos bolsonaristas não é o do Evangelho! Bolsonarismo mata e já começou a matar!
Este artigo foi também publicado no jornal TRIBUNA na sua edição doa dia 16/07/2022
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