Na manhã de quinta feira (19/3), escrevi consternado este artigo, quando eu estava em Brasília.
Pasme, mas até o dia anterior, metade dos infectados pelo coronavirus em Brasília estava dentro do Palácio do Planalto! Ali era o epicentro da epidemia que se irradiava para todo o Distrito Federal. Alguém pode imaginar que seja uma afirmação simbólica forte para se referir à tragédia brasileira, mas não. Pode ser também, mas é real. Os números estão aí. Pelo menos 15 pessoas da comitiva presidencial que participou do festim de Miami para lamber as botas Donald Trump estão hoje com a doença. O vírus já atingiu até ministros poderosos do bolsonarismo como o General Heleno, espalhando-se agora por outros poderes, como, no caso, o presidente do Senado.
Estou consternado por ver as as ruas e avenidas da capita federal vazias. Parques, escolas, shoppings, órgãos públicos, tudo fechado. Pouquíssimas pessoas transitando (ainda bem!). Seus muitos eventos culturais, como a Via Sacra do Morro da Capelinha em Planaltina, cancelados. Estou recluso em casa. Ontem à noite, em meio aos panelaços contra Bolsonaro que por aqui foram ruidosos, me surpreendi com uma coletiva pela televisão, dada à tarde pelo presidente e seus ministros, todos de máscaras, contrariando o protocolo mundial.
Patético. Tosco. Horripilante.
Sempre que o presidente abre a boca, só contribui para piorar ainda mais o ambiente geral do país. E desta vez não foi diferente. Se a coletiva tivesse acontecido num estádio, ele teria recebido uma estrepitosa vaia ao dizer que o governo “está ganhando de goleada”. Ganhando o quê? De quem? O dólar não para de subir, a Bolsa cai como nunca antes e as previsões de crescimento do PIB para este ano já beiram a zero? Isso para ficar nos indicadores diários da mídia ainda simpática ao neoliberalismo radical de Paulo Guedes. Na coletiva, Bolsonaro ainda teve a ousadia de pedir aplausos para si próprio, como “técnico da equipe”.
Para a jornalista Denise Assis, os destaques da coletiva foram: “a imprensa não reconhece o nosso trabalho”, “Vamos fazer uma manifestação do barulho às 21 horas”, e “fui à rua sim. Era a minha obrigação”.
O presidente sem envergadura e a manada obediente
Pior, o seu recado ainda chega, como chegou no domingo passado em Ribeirão Preto para algumas dezenas de imbecis que, como uma manada obediente, foram para a 9 de julho, atendendo à convocação do seu “mito”, mesmo com todas as recomendações médicas de não se aglomerarem por conta do coronavírus!
Não foram ali para manifestar solidariedade aos doentes ou ao pessoal da Saúde. Foram para a 9 pedir fechamento do Congresso e do STF, intervenção militar, e para prestar apoio ao governo mais desastroso da nossa história. ”
“Como no filme ‘Um estranho no ninho’, no qual um prisioneiro simula estar insano para ser transferido para um sanatório, tenho a impressão de que Bolsonaro também tenta iludir a população de suas deficiências intelectuais e de compreensão da realidade para justificar sua falta de capacidade administrativa” escreveu Florestan Fernandes Jr., do Jornalistas pela Democracia. Bolsonaro procura sua base radical para se sentir fortalecido. A proposta autoritária é típica dos fracos que não tem envergadura e conhecimento suficientes para enfrentar uma pandemia e uma crise econômica sem precedentes. E como tem gente que ainda gosta de autoritarismo e ditadura…
Civilização x Barbárie
Estamos em uma guerra entre a civilização e a barbárie. Aqui no Brasil, o que melhor representa hoje a barbárie é o bolsonarismo. Este é um câncer que se alastra pela sociedade e que precisa ser extirpado a qualquer custo. É um vírus pior do que o corona, pois ataca a inteligência das pessoas. E para extirpá-lo sem deixar nenhuma metástase ou sequelas, é preciso também extirpar os seus agentes, seus apêndices, seus interlocutores. É por isso que a manada da 9 de julho domingueira tem de ser ridicularizada, enxovalhada, achincalhada.
Os nazi/fascistas foram derrotados nos campos de batalha em 1945. Temos de derrotá-los hoje nas ruas, nas escolas, nos meios de comunicação, com a certeza de que esta gente vai parar mesmo é no lixo da história.
(Texto originalmente publicado no jornal Tribuna de Ribeirão Preto, em 21/03/2020 )
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