Como diria Cazuza: “Transformam um país inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro”. Parece até uma teoria da conspiração, mas é puro jornalismo investigativo. O fato mais comentado da semana vai muito além do que imagina a nossa vã filosofia. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, disparou a operação de busca e apreensão contra empresários golpistas, depois de ter recolhido extensos elementos que indicariam ações planejadas pelos bolsonaristas contra o processo eleitoral. Por isso, foi decretada a quebra de sigilo bancário dos investigados e o bloqueio das suas contas. Estão em jogo interesses golpistas que envolvem Augusto Aras.
Da facada a Aras no PG
A princípio, a investigação atinge os altos escalões da República e todos os jornais já noticiaram a descoberta de gravações telefônicas do Procurador Geral da República, Augusto Aras, com os investigados. Vazou geral. Quem conhece Moraes afirma que o ministro do Supremo tinha total ciência de que a operação geraria reações e ameaças de represálias por envolver empresários polpudos. Seja como for, Aras é amigo e colaborador de Meyer Nigri, dono da Tecnisa, um dos investigados. Ele publicou uma nota com críticas à operação. Moraes rebateu na mesma medida e sinalizou que tem muito mais em suas mãos.
Aras é um troféu que o milionário Nigri conquistou em um jogo que teve a cartada decisiva na facada de Juiz de Fora. Por que o dono da Tecnisa tem tanto poder junto a Bolsonaro a ponto de bancar a nomeação de Augusto Aras para a Procuradoria Geral da República? Foi Nigri quem mandou o advogado Victor Metta levar o médico Antônio Macedo de avião para Juiz de Fora e encaminhar o paciente, depois, para o hospital Albert Einstein, impedindo que fosse atendido no Sírio Libanês. Nesse sentido, Nigri se mobilizou a tal ponto que se tornou o amigo “número 1” de Bolsonaro.
Cassinos, religião e poder
Mas a relação entre eles é bem anterior. Nigri já teria apresentado empresários da comunidade judaica ao então pré-candidato, em 2016. O jornalista Elio Gaspari revelou que Bolsonaro teve um encontro secreto, em maio de 2018, com o bilionário Sheldon Adelson, já falecido, que era um dos maiores donos de cassinos do mundo. Não foi à toa que o dono da Tecnisa defendeu a legalização de jogos de azar no Brasil, exatamente depois do encontro entre Trump (que teve a campanha de 2016 financiada por Sheldon) e Bolsonaro. Daí o empenho de Bolsonaro e de Guedes em legalizar os cassinos no Brasil.
Mas tinha uma pedra no meio do caminho: os evangélicos. Não podemos esquecer de que, naquela famosa reunião ministerial, com muito palavrão e ofensas, o ministro Paulo Guedes tentou convencer Damares Alves a não ser obstáculo para o projeto de legalização dos cassinos no país. O áudio veio a público e é uma das páginas mais vergonhosas da nossa história recente. “Deixa cada um se f*der do jeito que quiser, Damares. Principalmente se o cara é maior, vacinado e bilionário. Deixa o cara se f*der, pô! Não tem … lá não entra nenhum, lá não entra nenhum brasileirinho. Não entra nenhum brasileirinho desprotegido. Entendeu?”, disse Guedes para Damares.
Moraes atrás do fluxo da grana do golpe
A tentativa de se transferir a embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém foi uma moeda de troca para se conseguir o apoio ou o silêncio dos evangélicos em relação à legalização dos jogos. Aliás, foi Sheldon quem convenceu Trump a fazer o mesmo, o que levou ao aumento da tensão no Oriente Médio. Foi ele também que persuadiu Trump a cortar o financiamento a refugiados palestinos e a revogar o acordo com o Irã sobre pesquisas na área nuclear. Sem dúvida, Cazuza tinha toda razão. Por essa e por outras, a grande maioria dos evangélicos é alinhada a essas políticas de extrema-direita. Por isso vota em Bolsonaro.
Assim, podemos desconfiar do que está em jogo na operação da Polícia Federal esta semana. É muito mais do que imaginamos. Afinal, são as entranhas do poder que poderão vir à tona com a revelação de diálogos altamente comprometedores entre empresários antidemocracia e altas autoridades da República. Daí o temor especial de Augusto Aras. Alexandre de Moraes está atrás do fluxo do financiamento do golpe contra as urnas e de outros interesses escusos. Interesses que envolvem jogos, religião e poder. Estão em jogo interesses golpistas que envolvem Augusto Aras. Transações com vínculos umbilicais com a extrema-direita dos Estados Unidos. Os próximos dias prometem! Vamos aguardar!
Este artigo também foi publicado pelo jornal TRIBUNA na sua edição do dia 27/08/2022
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