Não estava exagerando o ministro do STF Luiz Roberto Barroso, quando disse, há uns vinte dias, que “os militares estão sendo orientados” para o golpismo pelo pior presidente de toda a história da República. Como disse a jornalista Denise Assis, “o erro está no fato de ter sido ele a dizê-lo, e não uma instituição como o Senado Federal, ou uma entidade da sociedade civil como a OAB, ou a ABI, por exemplo”. Além disso, os fatos e as falas que se seguiram demonstram muito bem que estamos ou, quem sabe, na melhor das hipóteses, estávamos na antessala do golpe e Barroso tinha toda razão.
A senha já foi dada
O G1 divulgou um ofício assustador do último 28 de abril, dando ciência de que a situação é gravíssima. Do mesmo modo, tudo indica que o ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio de Oliveira Nogueira, estava pronto para apertar o gatilho contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que vinha “ingenuamente” – ou seria por medo? – cedendo a todas as exigências e pressões dos generais de Bolsonaro. “O que mais é preciso, ministro Fachin, para o senhor entender que marchamos para o precipício?”, chegou a questionar a jornalista Denise Assis.
Nesse sentido, quanto mais as pesquisas apontam a grande vantagem de Lula na corrida presidencial, tanto mais entram em pânico os círculos golpistas que rodeiam o núcleo duro que dá sustentação aos desatinos bolsonaristas. E, diante do desespero, só lhes resta o caminho do golpe. Simples assim. Não sabemos detalhes do enredo nefasto que está por vir, mas o deputado federal Eduardo Bolsonaro já disse, em alto e bom som, que “para fechar o STF, basta um cabo e um soldado”. A senha já foi dada há muito tempo. Estávamos na antessala do golpe e Barroso tinha toda razão.
A História não se revoga!
O general Paulo Sérgio pediu a saída do general Heber Garcia Portella, representante das Forças Armadas na Comissão de Transparência das Eleições, criada pelo próprio TSE. Ele alegou que ele já havia cumprido as suas funções na comissão e que, dali por diante, o TSE se reportaria apenas a ele, o ministro. Se isto não é um golpe nas eleições, não sabemos mais que nome dar a um golpe. Enfim, deveríamos chamar isto de “centralismo democrático”?, ironizou a jornalista.
E ficamos, então, perguntando: o que milicos tem a ver com processos eleitorais? Em um regime democrático, que se pauta pelo respeito à Constituição, eles têm as suas funções definidas pela própria Carta Magna, onde não consta nenhum tipo de sua interferência e tutela no processo eleitoral. Mas o passado os condena: durante a ditadura, eles acabaram com as eleições diretas, fecharam o Congresso, criaram a figura exótica do senador biônico e golpearam a vontade popular de diversas formas. A História não se revoga!
União é preciso para garantir a democracia
O TSE tem toda a autonomia legal para decidir o formato das eleições. Nesta semana, o ministro Fachin deu uma dura resposta à caserna e aos bolsonaristas. “Quem trata de eleições são as forças desarmadas. Portanto, as eleições dizem respeito á população civil que, de maneira livre e consciente, escolhe os seus representantes. Diálogo sim, colaboração sim, mas, na Justiça Eleitoral, a palavra final é da Justiça Eleitoral”, ressaltou o ministro. Será que Bolsonaro e os seus generais entenderam o recado?
Em suma, o que vimos, nos últimos dias, foi o ensaio claro da articulação entre Bolsonaro e os militares para conturbar a eleição. Muitos continuam dizendo que Bolsonaro vai tentar melar a eleição para evitar a derrota. O que não sabemos é em que momento o tentará, antes ou depois do pleito. Acredito que possa ser antes, e não depois de ser derrotado. Trump se deu mal porque tentou seu golpe depois de declarada a vitória de Biden. Por fim, mais do que nunca, é preciso a união de todos os democratas para garantir a democracia!
O jornal TRIBUNA publicou originalmente este artigo na sua edição do dia 14 de maio de 2022
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