Todas as peças do tabuleiro vão se ajustando e agora faz todo o sentido o “passar a boiada”, como queria o então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. A princípio, o capitão jamais negou o seu verdadeiro ódio aos povos originários. Mais que uma tragédia, o que estamos assistindo não passa de um crime anunciado. Antes de tudo, o apoio entusiasmado à reeleição por parte de plantadores de soja que roubam terras indígenas, desmatadores, garimpeiros e pescadores ilegais, na Amazônia e na região do Pantanal mato-grossense, não foi uma simples opção ideológica. O genocídio do povo yanomâmi foi uma política de governo calculada. E, para quem a iniciou, precisava ter continuidade. Esta é a face mais cruel do bolsonarismo.
Projeto de extermínio de um povo inteiro
Como bem lembrou Alberto Cantalide no 247, “esses bandidos foram uma das principais bases de apoio à ocupação das portas dos quartéis, após a derrota”. Vários personagens desse conluio criminoso estavam por trás dos eventos do 8 de janeiro em Brasília como participantes diretos ou financiadores. Não há a menor dúvida de que o governo Bolsonaro e sua ajudante de ordens Damares Alves queriam o extermínio daquele povo pela omissão deliberada. Esta é a face mais cruel do bolsonarismo. No entanto, a rápida resposta do governo Lula no socorro aos yanomâmis apontou uma mudança radical de rota. Agora o contraste é mais que evidente.
As Forças Armadas levaram mantimentos e medicamentos aos indígenas, assim como usaram o aparato de aeronaves para transportar aqueles que se encontravam em risco de morte. Em seguida, toda uma nova política articulada por vários ministérios entrou em ação emergencial. Mas o embate que ainda virá pela frente vai ser duríssimo. É urgente a retirada dos agentes criminosos que destroem as florestas, os rios e o solo. Para isso deve o novo governo fortalecer novamente o Ibama, o ICMBio e a Funai. Em suma, é clara a relação existente entre as nossas urgências ambientais e a sobrevivência dos povos originários.
Homens sem dentes e homens com dentes
Os invasores das terras dos yanomâmis aparecem na mídia como homens sem dentes e maltrapilhos. Trata-se de uma versão amazônica da Fátima de Tubarão, como bem lembrou o jornalista Moisés Mendes no 247. São a ralé do garimpo artesanal, mas prestam serviços a gente bem mais graúda. Eles é que fazem o serviço sujo, a mando de alguém ou por encomenda. “São a parte visível de um gigantesco esquema criminoso sustentado por quadrilhas protegidas por Bolsonaro, com a conivência, a omissão ou a cumplicidade de militares”, como escreveu o mesmo Moisés Mendes.
Já os homens com dentes, que circulam na área em aviões e helicópteros, esses não são vistos, mesmo que sejam conhecidos em toda a região. Lula já mandou fechar o espaço aéreo da terra yanomami. O ministro da Defesa, José Múcio, anunciou um verdadeiro mutirão das Forças Armadas para acelerar a repressão. Polícia, Ministério Público e diversos órgãos governamentais se mobilizam. Tudo o que o governo Bolsonaro não fez. Nada é mais urgente do que esta ação em conjunto para mostrar ao Brasil e ao mundo que governo e sociedade andam na mesma direção.
Os criminosos devem pagar caro pelo crime
Magistral o final do artigo de Moisés Mendes e será do nosso também: “os assassinos de índios e indigenistas, mandaletes das gangues do garimpo, todos protegidos por Bolsonaro, esses terão de pagar pelo espetáculo que o Estado precisa oferecer aos brasileiros. O Estado precisa dizer: nós estamos aqui. E convencer, por ação coercitiva, que está presente, lá onde o crime acontece, e não só nos gabinetes de governo ou do sistema de Justiça. Ninguém espera que peguem todo mundo. O Ministério Público calcula que 20 mil garimpeiros atuam na região. Não há como flagrar e prender todos. Peguem o que é possível pegar, como aconteceu dia 9 de janeiro com os manés de Brasília.”
Este artigo também foi publicado no jornal TRIBUNA na sua edição do dia 04 de fevereiro de 2023
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