Nos últimos dias, temos ouvido declarações cada vez mais insanas do mandatário da nação. A princípio, destaco duas. A primeira: “O CAC está podendo comprar fuzil. O CAC que é fazendeiro compra fuzil 762. Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Tem um idiota: ‘Ah, tem que comprar é feijão’. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar.” E a outra: “Para mim há três alternativas – ser preso, morto ou ter a vitória (ser reeleito)”. Golpistas devem ser tratados como criminosos.
Insanidade brutal
Dentre as três alternativas colocadas para si próprio, confesso que prefiro a primeira. Ele precisa pagar pelos crimes hediondos que já cometeu. Bolsonaro já antecipa o seu destino. Afinal, o genocídio que ceifou até agora a vida de mais de 580 mil brasileiros não pode ficar impune. Ele sabe que deixa o Planalto em um dia e, no outro, já vai estar na cadeia. Comprar fuzil em vez de comprar feijão, neste contexto de penúria e fome, é uma fala de covardia e de crueldade sem limites. Em síntese, uma insanidade brutal.
Todos esses desatinos têm endereço certo. Em suma, ele quer mobilizar a massa ignara de bolsominions para o grande ensaio do golpe no próximo dia 7. É sempre bom relembrar a base que continua a sustentar o pior presidente da nossa história. São policiais, militares da reserva, milicianos e evangélicos fundamentalistas. Por outro lado, pesquisas recentes e bem fundamentadas continuam apontando os grupos mais conservadores da sociedade com o tal bolsonarismo de raiz.
O objetivo é deteriorar o ambiente político
Às vésperas das manifestações fascistas, o pior governo de todos os tempos se espatifa por todos os lados. Isso ocorre na economia, no apoio empresarial, nas relações institucionais, na popularidade. É exatamente por isso que ele tem uma oportunidade na mobilização da sua claque no feriado da independência – como ele mesmo deixou claro – uma oportunidade, sem, no entanto, definir para quê. Diante da situação que vive, a chance buscada é de tentar escapar ao puro e simples fracasso. Assim como escapar também à cadeia, como ele também já observou.
É possível perceber que não temos no Brasil hoje um governo normal, voltado à discussão, formulação e implementação de políticas públicas. Enfim, não há uma agenda propositiva. Pelo contrário, temos um governo-movimento, como bem lembrou Claudio Couto na Carta Capital. A única preocupação é a ativação permanente dos seus apoiadores baseada em bobagens diárias. Nunca se fala na solução de problemas concretos que atingem a todos. Por isso, temos cavalos de batalha todos os dias com o único objetivo de deteriorar o ambiente político.
Quem não o apoia, atrapalha
Sua vocação autoritária torna necessárias suas investidas contra qualquer freio que o Estado democrático de direito lhe coloque. Assim, governadores e prefeitos não lhe prestam vassalagem? Que sejam atacados e sabotados. Os tribunais dizem não a seus caprichos? Que sejam alvo da ira de “seu povo”. O Senado investiga seus malfeitos? Que se achincalhem os senadores responsáveis pela CPI. A imprensa dá notícias incômodas? Que se insulte jornalistas e veículos de imprensa. Por fim, atores internacionais contestam seus delírios? Que sejam alvo de comentários odiosos.
Para Bolsonaro, o “povo” é só quem o apoia. É assim que pensam todos os populistas autoritários. Os outros são “vagabundos”, “imbecis”, “idiotas” e tudo mais que o paupérrimo repertório do “mito” puder conter de impropérios. Antes de tudo, é apenas para esse “povo” que supostamente governa. Quem não o apoia, atrapalha, e deve ser descartado. Os outros que se manifestam contra ele são um bando de “maconheiros”, “pobres coitados”, “massa de manobra”, gente que “vive de esmola”. Do mesmo modo, seus seguidores repetem essa cantilena todos os dias.
Para os golpistas, a força da democracia
Por fim, gostaria de frisar o que escrevi no meu último artigo. Se os bolsonaristas querem fazer do 7 de Setembro um marco do ensaio golpista, os democratas precisam fazer dele um marco da defesa da Democracia e da Liberdade! Assim, uma coisa precisa ficar bem clara: os que forem para a rua no dia da independência levantando bandeiras golpistas, devem ser tratados como criminosos. Afinal, para os criminosos há a força da lei, da liberdade e da própria Democracia.
O jornal TRIBUNA publicou originalmente este artigo na sua edição do dia 4 de setembro de 2021
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