Os delinquentes que organizaram manifestações de 15 de março, no seu desatino de atentarem contra a Constituição e as instituições, merecem todo o repúdio dos cidadãos comprometidos com a Democracia e com a liberdade.
Mas por que delinquentes?
Porque exigem abertamente o fechamento do Congresso e do Supremo, agridem a imprensa livre e jornalistas, pregam o ódio contra adversários e continuam a espalhar mentiras para enganar ignorantes e desavisados. São, portanto, fora da lei e querem trazer de volta a ditadura de tão triste memória.
A crise política se ampliou nos últimos dias, impulsionada pelo fracasso da política econômica ultra-liberal de Bolsonaro. O seu discurso, em Miami, afirmando que houve fraude nas eleições de 2018, ocorreu dois dias depois de ele gravar um vídeo convocando os seus delinquentes para participar dos atos no dia 15 de março. O discurso de Bolsonaro pôs em dúvida a lisura da Justiça Eleitoral é mais um ataque frontal às instituições democráticas. Ele acirra ainda mais a crise entre o Executivo e o Judiciário, e só levanta suspeitas de que esteja aumentando o tensionamento, em busca do fechamento do regime.
Além disso, se pareceu que o coronavirus os deteria, a falta de bom senso foi maior. Em tempos de medidas defensivas e claras contra a propagação da doença, que infelizmente não é uma “ilusão”, os delinquentes preferiram seguir as falácias de seu líder e atentaram também contra a saúde pública!
Vale destacar que Bolsonaro participou dos eventos. É claro que em meio à pandemia de coronavírus, o presidente deveria seguir as recomendações do seu próprio Ministério da Saúde e das autoridades sanitárias, mas, novamente, deu o exemplo às avessas.
É um gravíssimo ataque!
Na medida em que o chefe de Estado, visitando outro país, critica o processo eleitoral e a Justiça Eleitoral, isso pode atingir o nosso passado, mas também o nosso futuro. Ele deseja, na verdade, inviabilizar as próximas eleições. Isso é algo nunca visto, inusitado. Macula a imagem do país no exterior, além de ter essa repercussão dramática sobre a essência do regime democrático, que é a certeza de que os votos são conferidos e apurados com legitimidade.
Na semana passada, para viabilizar um acordo para a manutenção do veto que desobriga o governo de executar com prioridade os itens do orçamento incluídos por meio de emendas parlamentares, cerca de R$ 30,7 bilhões, o governo enviou três projetos de lei ao Congresso Nacional – PLNs, que regulamentam o orçamento impositivo. Mas, apesar de remeter formalmente os textos, Bolsonaro foi às redes sociais e negou o acordo, não se incomodando com as contradições evidentes na sua fala. Queria, na verdade, a todo custo, inflamar os seus delinquentes para as manifestações marcadas.
É muita notícia ruim de uma vez só
Todo este desatino acontece em meio aos péssimos sinais da economia, de que falamos aqui no artigo anterior. O pibinho de 1,1% joga mais combustível na crise política. Bolsa e dólar oscilam, o desemprego continua alto, fala-se abertamente em recessão, e o país entra em estado de alerta com o Coronavírus, em um contexto de cortes nas políticas de saúde.
Para o governador do Maranhão, Flávio Dino, “as manifestações do dia 15 são uma forma de afastar controles previstos pela Constituição para alimentar intuitos inclusivistas e personalistas do presidente, inclusive para beneficiar familiares”. Para Dino, há setores próximos a Bolsonaro querendo “uma ruptura, rasgar a Constituição”. Eu diria que o próprio presidente a quer.
Resposta tímida das Instituições
A aventura golpista de Bolsonaro testa todos os dias os limites da tolerância das instituições, que, é preciso dizer, têm reagido de forma tímida, a nosso ver. A resposta da presidenta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a ministra Rosa Weber, sobre a fraude eleitoral foi tão protocolar quanto a dos presidentes da Câmara e do Senado. Já passou da hora de dar um basta! Já era para ter sido aberto um processo de impeachment contra Bolsonaro, ele já passou dos limites há muito tempo. Fico aqui imaginando, diante de tudo isso, o que fez a presidenta Dilma para ser cassada.
Vamos lembrar o poema do Eduardo Alves da Costa: “Na primeira noite, eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dissemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada”.
Todo repúdio às manifestações do domingo. Todo repúdio aos delinquentes de verde-amarelo. Já passou da hora de darmos um basta a tudo isso!
(Texto atualizado, originalmente publicado no jornal Tribuna de Ribeirão Preto, em 14/03/2020)