Esta lógica perversa do neoliberalismo vem sendo ressuscitada na atual campanha eleitoral. Alguns candidatos como Alckimin, Amoedo e Álvaro Dias disfarçam o quanto podem esta falácia nos seus programas de governo, na ânsia de ampliar o seu apoio junto aos eleitores. O próprio Henriques Meirelles chegou a afirmar, meses atrás, que o candidato que se apresentasse como ungido pelo mercado não teria a menor chance. Meirelles incorporou o que disse. Um dos artífices da Reforma Trabalhista e da pretendida Reforma da Previdência está, como indicam as pesquisas, literalmente fora do páreo. Os outros citados tentam enganar a todo custo.
Mas temos aí outro candidato que, com a maior desfaçatez, estufa o peito e assume aberta escancaradamente o postulado: se os trabalhadores querem mais empregos, eles têm de abrir mão de vários direitos. Só pode ser ele. Quem? Jair Bolsonaro. Na última terça-feira, ao ser entrevistado pelo Jornal Nacional, o tema voltou à baile e ele chegou a se vangloriar de ter sido o único voto contrário à regulamentação do trabalho dos trabalhadores domésticos, quando a legislação foi votada e aprovada no Congresso. Mesmo contestado pelo entrevistador, Bolsonaro continuou afirmando que refluíram as oportunidades para estes trabalhadores por causa da nova lei. Mais um dos seus fake news.
A questão mais premente a ser enfrentada pelo próximo Presidente da República será, sem dúvida alguma, o desemprego. Como escrevemos aqui no sábado passado, temos hoje no país mais de 65 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho, de acordo com o último levantamento do IBGE, sendo que grande parte delas simplesmente desistiu de procurar emprego. 40% daqueles que entram no mercado de trabalho hoje são pela informalidade, trabalho precarizado, sem nenhuma garantia, sem direitos. Ou se sujeita às atrocidades trazidas pela Reforma Trabalhista, como o trabalho intermitente, em que você ganha por hora.
Perguntado, na entrevista, sobre sua proposta de ampliação do emprego, Bolsonaro tergiversou, gaguejou, olhou a cola na mão e não ofereceu nenhuma proposta. Podemos afirmar que para o flagelo do desemprego, potencializado pela sabotagem aberta ao governo Dilma e, depois, pelo golpe de 2016, o candidato da extrema direita, Jair Bolsonaro, segundo lugar nas pesquisas eleitorais, somente atrás do ex-presidente Lula, não tem proposta alguma. O máximo que propõe é a criação de “uma nova carteira de trabalho verde e amarela, voluntária, para novos trabalhadores”, que permitiria aos jovens que ingressassem no mercado de trabalho – ele não diz como eles ingressariam.
Para Aquiles Lins, jornalista e mestrando em Ciência Política pela UFSCAR, “a única coisa que Bolsonaro oficialmente propôs para gerar emprego é piorar ainda mais o que restou da CLT. Neste cenário de terra arrasada, com as empresas de engenharia praticamente destruídas pela Lava Jato, sem investimentos públicos em obras, com atividade produtiva estagnada, um jovem terá condições de impor sobre o patrão o seu desejo por um emprego formal? Além disso, e quanto à imensa parcela da população que não é jovem, que está desempregada, sem perspectivas de emprego? Para ela não há proposta do candidato Bolsonaro”.
(Texto originalmente publicado no jornal Tribuna de Ribeirão Preto, SP)