No contexto de crise política permanente que estamos vivendo no país, a difusão das notícias falsas – as chamadas fake news – funciona como verdadeiro combustível para os discursos de ódio que proliferam nas redes sociais e mesmo fora delas. É inacreditável como muitas pessoas compartilham e reproduzem essas notícias sem a menor preocupação em checar a sua procedência e compará-las com outras fontes. Embalam-se com títulos e montagens grotescas e, sem sequer ler o texto até o fim, passam para a frente contribuindo para aumentar a desorientação de muitos. No fundo o que faltou mesmo foi educação. Sem uma educação para o senso crítico, só temos mesmo de conviver com a ignorância que é o suporte do todos os fanatismos, fundamentalismos e obtusidades que ora nos cercam.
A Pastoral de Comunicação da Igreja Católica, ao celebrar este ano a 52ª Dia Mundial das Comunicações Sociais trouxe à baile este assunto com o tema “A Verdade vos libertará – Fake News e jornalismo de paz”. A partir do Evangelho de João, capítulo 8, verso 32, a Pastoral de Comunicação convoca a todos a uma reflexão extremamente necessária. Notícias falsas andam lado a lado com uma série de inescrupulosos grupos econômicos e políticos, bem articulados e que contam até com alto suporte tecnológico para seus propósitos, como o próprio facebook. Isto vem ocorrendo em escala internacional. Todos se lembram da sua interferência direta nas últimas eleições presidenciais nos EUA e no Brexit no Reino Unido. Eventos claramente identificados com teses e projetos da direita.
No Brasil não tem sido diferente. Estudo feito pela Associação dos Especialistas em Políticas Públicas de São Paulo (AEPPSP) identificou os maiores sites de notícias do Brasil que disseminam informações falsas, não-checadas ou boatos pela internet, as chamadas também de notícias de “pós-verdades”. Os sites com mais “notícias” compartilhadas são o JornaLivre e Ceticismo Político, que contam com a página MBL – Movimento Brasil Livre como seu principal canal de distribuição. O estudo da AEPPSP utilizou os critérios do “Monitor do Debate Político no Meio Digital” – criado por pesquisadores da USP -, uma ferramenta que contabiliza compartilhamentos de notícias no Facebook e dá uma dimensão do alcance de notícias publicadas por sites que se prestam ao serviço de construir conteúdo político “pós-verdadeiro” para o público brasileiro.
Depois que Mark Zuckerberg, o criador do facebook, foi pego com a boca na botija, esta rede social decidiu tomar algumas medidas saneadoras para coibir esta prática nefasta. Essas medidas acabam de ser criticadas como tentativas de “censura” por grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL), um dos mais ativos da direita em nosso país. “De notícias falsas o termo passou a abranger toda e qualquer informação que desagrade o sistema de sempre, de esquerda, progressista, revolucionário e politicamente correto”, afirmou Arthur do Val, um dos líderes do MBL em um vídeo publicado no YouTube. “Querem asfixiar a direita”, reclamou Renan Santos, outro líder do movimento. Eles assumem abertamente que são de direita e que se sentem incomodados pelas restrições que podem acontecer às fake news. Daí, podermos concluir que estes movimentos são verdadeiros celeiros das notícias falsas.
(Texto originalmente publicado no jornal Tribuna de Ribeirão Preto, SP)