Estava eu já rascunhando um próximo artigo, um paralelo histórico entre a peste negra e o coronavirus, quando fomos todos surpreendidos pelo desastroso pronunciamento de Bolsonaro na terça-feira à noite (24/03). Aí não resisti. Não poderia deixar de comentar esta que foi uma das falas mais repudiadas da história da República. E deixei a outra história para depois.
Gabinete do ódio
Vi um comentarista da Globo News chamar o presidente de “Napoleão de hospício”. A expressão é usada para se referir a pessoas que são instigadas a supercompensar uma incapacidade percebida, em outros aspectos de suas vidas. Neste caso, não existe a menor dúvida que a tal incapacidade percebida é o quociente de inteligência que falta por completo a Bolsonaro. Que ele tem vocação para Napoleão, não duvidamos. Mas o hospício torna as coisas ainda piores.
O hospício começa pelo seu entorno imediato. É o chamado “gabinete do ódio”. Trata-se de um grupo capitaneado pelo filho 02, o Carlucho, especializado em preparar os discursos mais fanáticos do presidente. É o núcleo duríssimo obediente a Olavo de Carvalho. Sabe-se que foi este núcleo que ajudou a redigir o pronunciamento da terça-feira, apesar de negado pelo presidente. Mas ser mentiroso é o de menos para ele.
Vai pra Cuba!
O gabinete do ódio, na verdade, não fica intramuros. Ele se espalha por toda a sociedade disseminando o que há de pior em termos de ignorância, mentiras e falta de educação. É um segmento da sociedade que, ainda bem, está em refluxo. Isso é perfeitamente perceptível. Nas redes sociais, principalmente na minha fanpage, lido diariamente com este gabinete do ódio ampliado, principalmente aqui em Ribeirão.
É o pessoal que passou pela escola e até pela faculdade e não tirou nenhum proveito. Não conseguem articular e argumentar nada. Acredito que nunca escreveram sequer um parágrafo. Interpretação de texto? Ah! É querer demais… Quando percebem do que se trata (e acho que tem dificuldades até para isso), logo já vem um “professorzinho de merda!”. Fora as outras expressões tradicionais que se repetem: “vai pra Cuba!”, “esquerdopata!”, “petista!”, “vagabundo!”, “funcionário público!”, “acabou a mamata…”, etc.
Um pronunciamento calculado
Mas voltemos ao Napoleão de hospício. Bolsonaro, antes de ser é um louco, é um psicopata. E como psicopata, o seu pronunciamento de terça foi milimetricamente calculado com o gabinete do ódio. Ele tentou agir com esperteza ao não se comprometer com as medidas drásticas e necessárias de isolamento social, pois sabia que a população, os cientistas, os profissionais da saúde e os governadores fariam isso, até por uma obrigação legal.
Ele também imagina que a pandemia poderá não se agravar como em outros países, e se limitar a poucos casos, já que muitas medidas foram tomadas a tempo de se evitar o pior. É uma hipótese que ele assume. No entanto, não é à toa que Bolsonaro e os empresários que lucram com suas políticas econômicas não param de repetir que o isolamento é exagero e irá quebrar a economia, gerará desemprego, etc. Vocês viram o que disse o dono do Madero?
A doença como desculpa
Para o Napoleão de hospício o corona caiu do céu, pois é a chance de achar um culpado, quando tudo isso passar, para a profunda recessão que ele e seu ministro Paulo Guedes já haviam produzido antes da crise, ou seja, ele e seu governo já quebraram o país e agora poderão assumir isso pondo a culpa na oposição, no PT, na esquerda. Inimigos fictícios que ele e seus bolsominions nunca esquecem.
Ele e o seu gado vão dizer que os inimigos do Brasil bancaram a histeria de parar o país diante de uma gripezinha que matou pouca gente, mas que quebrou a economia e gerou o desemprego. Neste cenário, o Napoleão de hospício pretende aparecer como o herói que gritou sozinho pela razão e pelo país contra os inimigos. Mas, pelas reações, o tiro está saindo pela culatra. A grande maioria das pessoas já está percebendo que Bolsonaro é o próprio anjo da morte, é o próprio coronavirus.
(Texto originalmente publicado no jornal Tribuna de Ribeirão Preto, em 28/03/2020 )
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