Se formos pesquisar o significado de “negacionismo” na Wikipédia, vamos encontrar: “é a escolha de negar a realidade como forma de escapar de uma verdade desconfortável. Trata-se da recusa em aceitar uma realidade empiricamente verificável, sendo essencialmente uma ação que não possui validação de um evento ou experiência histórica.” Desde a ascensão do governo de extrema-direita entre nós, nos deparamos frequentemente com discussões em torno deste conceito aqui no Brasil. No entanto, sua origem e evolução são bastante controversas e merecem uma reflexão mais apurada. Estamos entrando no mundo da pós-verdade.
Motivações religiosas a partir da Bíblia
A princípio, essas novas verdades “absolutas” geralmente têm uma origem religiosa, exatamente pelo caráter dogmático e universalista da maioria das religiões. Por exemplo, a recusa dos fundamentalistas em aceitar a teoria da evolução de Charles Darwin. A reação cresceu quando os estudiosos começaram a utilizar o método científico para estudar a Bíblia, tida como verdade inabalável. Seja como for, negacionismo é um neologismo que aparece na França a partir de 1987, como substituto de “revisionismo”, para se referir especificamente ao questionamento acerca do genocídio dos judeus pelos nazistas.
Na ciência, ele é definido como a rejeição de conceitos básicos, incontestáveis e apoiados por consenso científico em favor de ideias tanto radicais, quanto polêmicas. Suas diversas formas têm em comum a rejeição de evidências maciças e a geração de controvérsias a partir de tentativas de negar que exista um consenso. O negacionismo climático, por exemplo, tenta desmentir ou desmoralizar os argumentos científicos a respeito das mudanças climáticas. Em síntese, supõe-se que o negacionismo tenha diversos motivos, como, além das crenças religiosas, o proveito próprio ou a necessidade de um mecanismo de defesa contra pensamentos perturbadores.
Agora, um negacionismo de resultados
Hoje nos deparamos com o governo mais obscurantista da nossa história. Assim, ele se escuda no negacionismo e é cortejado por um séquito de milhões de minions que mais se assemelham a zumbis saídos das profundezas da ignorância ignara. São assombrações de uma época inimaginável. Mas o pior nem é isso. O pior é quando percebemos que o negacionismo não é uma ideologia. Trata-se de uma farsa calculada milimetricamente para a usurpação e a manutenção no poder. Foi o que a jornalista Mary Zaidan chamou de “negacionismo de resultados”. O negacionismo de Bolsonaro é puro oportunismo
Isso ficou muito claro no depoimento do ex-ministro Pazuello na CPI da Covid. De acordo com ele, as bravatas negacionistas de Bolsonaro não passavam de “coisas de internet”. Poderia ser fé, crença. Nada disso. O negacionismo de Bolsonaro é puro oportunismo sustentado pela mentira compulsiva e má-fé. Um tripé perverso que, por interesse de inescrupulosos e ignorância de muitos, faz o Brasil acelerar velozmente para trás. Em suma, agir ao contrário dos princípios da ciência e do bom-senso é uma prática aplicada por ele em todas as frentes, não somente na pandemia. Rejeitar a realidade é a única alternativa para manter Bolsonaro no poder. A estratégia é criar um mundo paralelo e defendê-lo até o fim.
Genocídio planejado com a imunidade de rebanho
Toda essa negação tem propósito e consequências planejadas. “É o instrumento escolhido para ‘destruir muita coisa’, meta assumida publicamente em março de 2019, em um jantar em Washington, nos áureos tempos de Donald Trump. Portanto, vai muito além do desprezo à máscara, da provocação de aglomerações ou da defesa de drogas comprovadamente ineficazes e até da automedicação, como fez na live da última quinta-feira. Irmãs siamesas, negação e mentira são ferramentas usadas conscientemente pelo governo Bolsonaro”, como afirma Mary Zaidan.
Como resultado, de toda essa farsa temos este genocídio de mais de 450 mil brasileiros, milhares de mortes evitáveis. Nesse momento, nos confrontamos com uma responsabilidade cívica e histórica: responsabilizar imediatamente os responsáveis. Afinal, a CPI da Covid tem desvelado o verdadeiro projeto da milícia negacionista e farsante que assumiu o governo em 2019. O projeto era multiplicar o mais rápido possível o contágio viral, mesmo às custas de milhares de vidas, para preservar a economia, cujo desempenho é essencial para a reeleição de Bolsonaro. Em suma, é a loucura da tal imunidade de rebanho que não funciona nem com o gado.
O jornal TRIBUNA publicou originalmente este artigo na sua edição do dia 29 de maio de 2021.
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