A semana foi quente em Brasília. Destaque para as oitivas dos mentirosos. Antes de tudo, o objetivo maior desses mentirosos era blindar o seu chefe. O primeiro mentiroso que abriu a semana foi o ex-ministro das Relações Exteriores de Bolsonaro, Ernesto Araújo. A princípio, em seu depoimento para os senadores da CPI ele misturou desfaçatez e cinismo que insultaram a todos os cidadãos. Como escreveu o jornalista Ricardo Barros, “apesar das evidências contrárias, o ex-chanceler negou que tenha insultado a China, maior parceira comercial do Brasil e fabricante dos insumos das duas principais vacinas utilizadas no País”. Lembrando que Araújo foi um dos maiores expoentes da linha-dura da extrema-direita no governo de Bolsonaro.
Como disse a senadora Kátia Abreu, foi possível observar dois Ernestos: “um, debochado, provocativo, negacionista, discípulo do atraso e porta-voz das trevas, onde pululam Olavo de Carvalho e outros fanáticos. Contudo, na última terça feira, o país se viu diante de um Ernesto subitamente transformado. O impositivo falastrão, dono de insultos abusivos e acusações levianas, media as palavras, escandindo frases com visível cuidado diplomático.” Para tanta mentira e cinismo assim, o objetivo maior desses mentirosos era defender e blindar o seu chefe. E o chefe é o próprio presidente! E para isso, chegaram a se comprometer seriamente, apesar do juramento de só falarem a verdade.
Empáfia, blindagem e mentiras
Mas o ponto alto da semana foi o depoimento do ex-ministro da saúde, Eduardo Pazuello. Como escreveu o jornalista Eric Nepomuceno, “ao menos um detalhe do treinamento anterior a que foi submetido funcionou: Pazuello tentou, o tempo todo, tirar Jair Messias do lugar de Genocida. Não conseguiu mais do que complicar o presidente”. Formado ainda durante a ditadura, Pazuello é uma empáfia só. Falava com a certeza de que os militares são seres superiores à humanidade em geral e aos brasileiros em particular. Escudado nessa empáfia, mentiu com uma facilidade comparável à de seu chefe, que “manda e ele obedece”. Enfim, falou em ilações, desviou do assunto, acovardou-se.
Os governistas tentavam ensaiar a defesa do indefensável e caiam sempre no ridículo. Os oposicionistas desmentiam o ex-ministro enfaticamente, mas ele continuava mentindo. Tudo valia a pena para defender e blindar o chefe. Não ouviu nenhuma ameaça de prisão, mas era merecedor, sem dúvida, até muito mais que o ex-secretário da comunicação, Fabio Wajngarten, o mentiroso da semana anterior. E como ainda lembrou Nepomuceno, “nem mesmo a estúpida intervenção do senador Flávio Bolsonaro conseguiu desviar o rumo da presença especialmente absurda de Pazuello.” Assim, com frases longas e tergiversações, ele se estendeu demoradamente nas mentiras, complicando a sua própria situação cada vez mais.
Laçando a boiada de Ricardo Salles
A semana não poderia terminar melhor do que a Polícia Federal no encalço do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Já o apelidaram de “balança-mas-não cai”, mas tem tudo para cair dessa vez. Apontado por especialistas como um dos maiores inimigos globais do meio ambiente, ligado a madeireiros e grileiros, a Polícia Federal o apontou como facilitador de um esquema de exportação ilegal de madeira. No centro da operação da PF, está o despacho do presidente do IBAMA, já afastado pelo STF, eliminando a exigência de autorização de exportação da madeira por parte do órgão ambiental. Aliás, a operação da PF, ordenada pelo STF, contou até mesmo com informações de órgãos de fiscalização dos EUA.
Além disso, a PF também detectou uma “movimentação extremamente atípica” nas contas bancárias do escritório de advocacia de Salles. De janeiro de 2012 a junho de 2020, elas movimentaram R$ 14,1 milhões, segundo dados do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Em síntese, os crimes investigados pela PF incluem corrupção passiva e ativa, facilitação de contrabando, prevaricação, contrabando, lavagem de dinheiro e crimes contra a administração ambiental. Afinal, é muito para o caminhãozinho de Bolsonaro! O ex-chefe da PF do Amazonas, Alexandre Saraiva, comemorou no Twitter, com um versículo da Bíblia: “Regozijem-se os campos e tudo o que neles há! Cantem de alegria todas as árvores da floresta” (Salmos, 96).
O jornal TRIBUNA publicou este artigo na sua edição do dia 22/05/2021.
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