O historiador José Murilo de Carvalho resumiu, em poucas linhas, o que é “ser republicano”. Vale a pena relembrar um de seus textos, que nos leva a uma série de reflexões. Ele escreve: “Ser republicano é crer na igualdade civil de todos, sem distinção de qualquer natureza. É rejeitar hierarquias e privilégios. É não perguntar: ‘Você sabe com quem está falando?’ É responder: ‘Quem você pensa que é?’ É crer na lei como garantia da liberdade. É saber que o Estado não é uma extensão da família, um clube de amigos, um grupo de companheiros.”
E mais: “É repudiar práticas patrimonialistas, clientelistas, paternalistas, nepotistas, corporativistas. É acreditar que o Estado não tem dinheiro, que ele apenas administra o dinheiro pago pelo contribuinte. É saber que quem rouba dinheiro público é ladrão do dinheiro de todos. É considerar que a administração eficiente e transparente do dinheiro público é dever do Estado e direito seu. É não praticar nem solicitar jeitinhos, empenhos, pistolões, favores, proteções.” E acrescento: ser republicano hoje é, sobretudo, ser transparente.
Muito boa a síntese feita por José Murilo de Carvalho. Muito apropriada para a realidade brasileira. De qualquer modo, claro que os valores republicanos vão muito mais longe, para abranger também, além da Justiça, a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade (lembra da Revolução Francesa?), a Laicidade, a Cidadania e, principalmente, a Dignidade da pessoa humana.
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José Murilo de Carvalho é um cientista político e historiador brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras também e da Academia Brasileira de Ciências.
O texto em questão foi publicado no livro “O pecado original da república”, editora Bazar do Tempo, 2017.