Não venham me dizer que tudo isso não era previsível! Desde que o candidato bolsonarista ganhou as eleições para governador de São Paulo, sabíamos perfeitamente que a inteligência, o pensamento crítico, a ciência e a cultura seriam jogadas no lixo. Sumariamente. E Tarcísio de Freitas ainda pegou como fiel escudeiro um secretário da Educação, Renato Feder, que vai literalmente, fazer de tudo para jogar a pá de cal na educação pública do nosso estado. Mas, pode ter certeza, nós, professoras e professores, resistiremos. Resistência é o nosso DNA em todos esses anos!
Queima de livros ainda se faz
Na mesma semana em que a polícia do atual governador perpetrou uma chacina de 16 mortos no litoral paulista, por pura vingança, a Secretaria Estadual da Educação definiu que será utilizado um material próprio e digital nas turmas entre o 6º e o 9º anos do ensino fundamental e no ensino médio. A princípio, o conteúdo será 100% digital. Contudo, o Ministério Público de São Paulo instaurou, na última quinta-feira, um inquérito para apurar esta decisão do governador de não aderir ao Programa Nacional de Livros Didáticos do Ministério da Educação, a partir de 2024.
Então, vieram-me rapidamente à lembrança as grandes queimas de livros registradas na história. Desde o grande incêndio da Biblioteca de Alexandria, no Egito, que consumiu 40 mil livros e um milhão de documentos. Até uma das mais famosas e recentes, em 10/05/1933, quando foram queimadas em praça pública, em várias cidades alemãs, as obras de escritores inconvenientes ao regime. Assim também, Hitler e seus comparsas pretendiam uma “limpeza” da literatura. Esta decisão hedionda de Tarcísio e Feder se inspira diretamente no nazifascismo. Não há a menor dúvida!
Tirar livros é uma estratégia de dominação
A promotora Fernanda Peixoto Cassiano considerou que a medida foi adotada sem um debate prévio com a comunidade escolar e que a decisão pode infringir os princípios constitucionais de gestão democrática do ensino público. Mas Tarcísio e Feder nunca ouviram falar em gestão democrática… A Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais avalia a mudança como “radical” e aponta ser a primeira vez que a rede estadual paulista fica de fora do programa nacional de livros. A entidade prevê que 1,4 milhão de estudantes deixarão de receber livros físicos e, obviamente, o seu conteúdo, a partir do ano que vem.
O famoso advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, mais conhecido como “Kakay”, publicou um artigo nesta sexta-feira (04/08/23) – intitulado “Sem livros, ninguém sabe o que é chacina” – com duras críticas ao governador de São Paulo. Para ele, a decisão da gestão Tarcísio de tirar os livros impressos das escolas parece até piada, mas na realidade “é uma estratégia de dominação. O livro é forte inimigo das ditaduras, do fascismo e da barbárie. O livro, trocado por uma arma, alimenta todas as formas de obscurantismo.” Mas resistência é o nosso DNA em todos esses anos!
Educação para trabalho precário e uberizado
Continua Kakay: “É a vitória do atraso mais cruel e mais odiento, pois deixa de dar oportunidade às crianças de se apaixonarem por livros. Pouco importam as conhecidas dificuldades, muitas vezes impossibilidade da população da periferia de acessar a internet. Pouco importa se os especialistas afirmam que o livro impresso é essencial para que os leitores possam reter mais o aprendizado. É uma questão ideológica: investir no não conhecimento, especialmente dos jovens pobres da periferia”. Falou e disse o Kakay. Assino embaixo!
Tarcísio e Feder estão numa cruzada contra a educação. Além da fogueira de livros, querem também impor itinerários formativos de ensino técnico e profissional que são a formação da juventude para o trabalho precário e uberizado, avançando com a privatização da educação. E ainda baixaram também uma portaria para que os gestores controlem as aulas dos professores com observações diárias e relatórios. Essa medida busca controlar o que os docentes ensinam em sala de aula, minando a liberdade de cátedra, prevista na Constituição. Mas insistimos que resistência é o nosso DNA em todos esses anos. E vamos resistir!
O jornal TRIBUNA também publicou este artigo na sua edição do dia 05/08/2023.
PS: Depois da repercussão extremamente negativa, o governador Tarcísio voltou atrás no sábado, 05/08, prometendo manter livros e “apostilas” impressos em todos os anos do ensino fundamental e médio. Mas não deixou claro se o estado de São Paulo continuará participando do Programa do Livro Didático do governo federal. A emenda está saindo pior do que o soneto.
Se você quiser me conhecer melhor, linque em https://www.professorlages.com.br/perfil