O Bicentenário da Independência não merece essa comemoração patética. Em outros idos, o centenário e o sesquicentenário foram vividos com intensas programações cívicas e culturais de repercussão internacional. Tivemos uma agenda oficial digna de fatos marcantes na história das nações. Desta vez, no entanto, o que se verificou foi a extrema politização da data, transformada em comício como último recurso para reverter o resultado das pesquisas e para se manter no governo a milícia de extrema-direita. O futuro presidiário repetiu ameaças, pediu votos e usou a esposa em um discurso recheado de machismo na Esplanada dos Ministérios. Antes de mais nada, tivemos um 7 de setembro para dividir e não para unir.
Continuam as ameaças
O futuro presidiário baixou o nível mais uma vez e fez um “esquenta golpista”. Acima de tudo, mais um vexame internacional com um discurso desrespeitoso e insano, até com o presidente de Portugal que foi obrigado a assistir aquele show de horrores. “Imbrochável” foi a expressão mais ouvida nas comemorações deste 7 de setembro na capital federal. “Bolsonaro humilha o Brasil ao exaltar o seu próprio pênis”, destacou o 247. Ministros do STF apareceram “mortos” em coreografias e eram carregados em caixões. Os fascistas saíram às ruas neste feriado de quarta-feira em apoio ao futuro presidiário, pelo fim do STF, contra o comunismo e contra as urnas eletrônicas.
As ameaças são constantes. O futuro presidiário, mais uma vez, afirmou que 1964 pode se repetir. Para isso, ele conta com a maior parte do agronegócio e dos evangélicos capitaneados pelos pastores do diabo. Por outro lado, a sua política armamentista faz todo o sentido. Não existe nenhuma política de segurança pública. Ao mesmo tempo, ele busca armar os grupos conservadores com seus decretos de liberação de armas, exatamente para emparedar as instituições e destruir a democracia. O que se viu no 7 de setembro foi demonstração de força desses grupos em apoio ao governo miliciano. Era o seu gado. Total insanidade. Tivemos um 7 de setembro para dividir e não para unir.
Todos esses crimes devem ser investigados
O isolamento político, no entanto, é visível. No palanque do desfile em Brasília, não havia a presença de nenhum dos chefes dos outros poderes. O futuro presidiário levou para ficar ao seu lado um empresário golpista investigado pela Polícia Federal por suas ameaças às instituições. Trata-se de uma afronta aberta à Constituição e às leis. “Esta usurpação do 7 de setembro é uma autêntica traição à pátria, configura-se em um megacrime eleitoral”, afirmou o jornalista Bepe Damasco. Com certeza, denúncias serão levadas ao TSE e a Corte deverá se pronunciar. Na verdade, o que tivemos foi um verdadeiro sequestro de uma comemoração que deveria ser cívica para unir todo o povo brasileiro em torno de seus ideais e valores comuns. Mas tivemos um 7 de setembro para dividir e não para unir.
“Apesar de o país ainda ter um longo caminho pela frente até a conquista da verdadeira independência, no dia 7 de setembro haveria lugar para a realização de uma grande festa popular, que serviria de reflexão sobre como chegamos até aqui e os passos necessários para a construção efetiva de uma nação inclusiva, justa e soberana”, ainda afirmou Bepe Damasco. Nada disso aconteceu. O futuro presidiário se valeu da estrutura do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, bancada com dinheiro dos brasileiros e brasileiras, para pedir votos de forma desavergonhada. Enfim, em hipótese alguma, podemos aceitar passivamente essa promiscuidade grotesca entre os papéis de um chefe de Estado e de um candidato à reeleição. Esperemos os próximos capítulos.
O jornal TRIBUNA publica também este artigo na sua edição do dia 10/09/2022.
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