Confira a entrevista com Patrícia de Bortoli publicada no jornal Tribuna. Patrícia é gestora do Espaço Hierofante, onde se respira juventude, contracultura e muita música qualidade com artistas de vários lugares do mundo. Tudo isso na Rua Goiás, 1420, nos Campos Elíseos.
Professor Lages – Fale-nos um pouco da história do Hierofante. Como nasceu a ideia, quais os desafios iniciais, por onde vocês passaram, por que tiveram que migrar?
Patrícia – O Hiero nasceu do amor a música e de nossos LPs, nossa primeira casa foi na rua Lafaiete, durou cerca de um ano e por problemas estruturais mudamos pra rua São José, onde ficamos por um ano e meio e recebemos ali umas 60 bandas da cena autoral independente, e ai tenho que ressaltar a parceria forte com o Coletivo Fuligem que viabilizou esse desejo nosso de trazer as bandas. E agora estamos na rua Goiás, desde março/2017 onde seguimos com o circuito de bandas de toda parte do planeta! Acredito que já foram mais de 100 bandas circulando desde nosso nascimento até aqui.
A instalação aqui neste espaço nos Campos Elíseos deve ter suas vantagens. Quais são?
Esse endereço nos proporcionou além do show a experiência e a troca com os artistas que circulam, pois aqui temos também a hospedagem colaborativa. Uma dificuldade na cena de fato é o público que não é muito, mas nada paga as experiências vividas tão de perto e tão reais que essa vivência tem nos proporcionado. É de fato um intercâmbio cultural.
Além de novas parcerias que apareceram no último ano como o Instituto Cultural Lyndolpho Silva, que possibilitou abrirmos a casa para atividades formativas e gratuitas. Fizemos por aqui também cinema e teatro, que não tínhamos nos outros endereços.
Vocês costumam chamar o Hierofante de “a casa da contracultura”. Por quê? E porque a escolha do nome “Hierofante”?
O nome é auto explicativo! Porque somos contraculturais mesmo! Seguimos na contra mão do que é convencional. Realidade nua e crua “rasgando a carne de vocês”. Já o nome “O Hierofante” gera esse questionamento de “o que é isso?”, e só conhecendo a casa e nos conhecendo que se pode entender! O Hierofante é um poema do Oswald de Andrade que o Secos e Molhados musicou, e veio daí a escolha do nome!
A gente sabe que o Hierofante tem uma pegada forte no quesito “formação”. É, sobretudo, um espaço de cultura e educação. Que atividades vem sendo desenvolvidas nesse sentido?
Nessa vertente formativa, devo enfatizar a parceria com o Instituto Cultural Lyndolpho Silva, que já há alguns anos, nascido em Piracicaba como um grupo de estudos entre professores e que agora tem sua sede aqui no Hiero. Nós prezamos a educação livre e gratuita. Então, uma vez por mês, fazemos o que pode ser chamado de aula, roda de conversa, bate papo, enfim, formação sobre temas como capitalismo, fascismo, democracia, entre cursos onde abordamos alguns autores. Sempre lembrando que educação não é mercadoria, portando os cursos são livres e gratuitos. Quem toma a frente do ICLS é o professor da USP Marcos Cassin e sua companheira Mirian Helena, parceiros do Hiero pra vida!
Vocês atuam de forma colaborativa? Costumam fazer parcerias para as atividades e os eventos? Se sim, quais são estes parceiros?
O Hierofante somos eu e meu companheiro Rafones. Mas como já citei, o Hierofante tem muitos parceiros! Trabalhamos de maneira colaborativa desde sempre e não estaríamos onde estamos sem esses parceiros. O Coletivo Fuligem, ICLS, Antro, Cerâmica São Luís, UGT, CECAC, Trem Cultural, Mulheres a Mostra, são todos parceiros, e quando se enxerga a cena não tem como ser de outro modo, é uma grande rede que enlaça todos que estão por um fim em comum, isso é a cena!
Podemos dizer que o Hierofante já constituiu um público específico? Que público é esse?
A busca pelo público é um caminho sem fim! Rs! Como disse, quem entende a cena aparece por aqui, é o que chamam de público fiel! Esperamos alcançar mais e mais pessoas sempre, isso é fato. Mas quem gosta de boa música e de bom papo é público do Hiero!
Recorde pra gente alguns momentos ups da história do Hierofante. Que não vão sair da memória.
O primeiro show a gente nunca esquece! Fizemos ainda na Lafaiete, e foi um dos únicos eventos com banda que tivemos lá, o “pogo dos trabalhadores” no primeiro de maio, recebemos a Distúrbio Mental (RP), PPA (Serrana), Produto Fecal (Sertãozinho) e Índios Urbanos (Mirassol). Depois dessa largada só veio coisa boa, recebemos bandas de toda parte como Argentina, Uruguai, Portugal, Finlândia, Alemanha, Chile, Califórnia, Peru, Holanda, além das nacionais de todas as regiões do país! Como disse, são muitas!
Daqui até o final do ano, o que está já programado ou pensado de mais importante?
Neste final de ano estamos dando uma pequena pausa nas programações após agosto, vamos deixar de ser uma dupla e nos tornar um power trio! Descobrimos a pouco minha gravidez e então estamos matutando alguns projetos que assim que concretos todos saberão com certeza! Nosso projeto de discotecagem não para, seguimos por ai fazendo um resgate a música brasileira no vinil, então quem ainda não conhece esse trabalho vale a pena conhecer, garanto que você nunca mais pensará a música nacional da mesma maneira!