A pesquisa do Datafolha traz ou mantem resultados estarrecedores. Josias de Souza, em seu blog, resume bem a situação política do Brasil três meses antes das eleições: uma democracia no precipício. Com o sistema político no buraco, um pedaço expressivo do eleitorado age como se desejasse jogar sete palmos de terra em cima. Sem concordar com muitas conclusões do blogueiro, ele acerta, pelo menos, quanto à situação de impasse a que chegou a tão jovem democracia brasileira. Na disputa do governo-tampão do estado de Tocantins, há menos de um mês, já tivemos uma prévia: 49,33 % de abstenção e votos nulos e brancos. O Datafolha apontou para presidente, em torno de 45% nesse sentido.
A persistência ou não da candidatura Lula dá a dimensão do problema. O ex-presidente ganha de todos os concorrentes, quando está na disputa. Este resultado mostra a liderança e o carisma do ex-presidente, não a força eleitoral do seu partido. Parte de seu eleitorado segue a palavra de ordem do PCO: ou Lula ou nada! Em um primeiro momento, mais nos parece um arroubo populista à la De la Torre no Peru, Cárdenas no México, Perón na Argentina e mesmo Vargas no Brasil. Entramos em uma imprevisibilidade que pode levar o futuro presidente a ser eleito com menos de ¼ dos votos válidos. O PT comemora a força eleitoral de Lula, a democracia é colocada definitivamente em xeque. Mas é preciso ir mais a fundo. Quais as razões desta grande desilusão de boa parte do eleitorado?
O resultado da pesquisa do Datafolha é a prova cabal do fracasso político, institucional e eleitoral do golpe de 2016. O impeachment de Dilma Rousseff, sem comprovação de crime de responsabilidade, não enganou boa parte do povo brasileiro. Por mais que o juiz de Curitiba, o Supremo (e tudo!), a mídia e a maioria do Congresso formada por quadrilheiros conhecidos quisessem fazer crer que o Brasil caminharia em novos rumos, superando a corrupção, o eleitorado percebeu que as suas pretensões eram bem outras: redução drástica com os gastos com educação e saúde, reforma trabalhista, reforma da previdência, a venda do pré-sal às empresas internacionais, retrocesso geral.
Difundiram a narrativa inicial do impeachment, logo após o resultado das eleições de 2014 – quem não se lembra do editorial de Merval Pereira? A atuação ostensiva da TV Globo em favor dos protestos dos manifestoches, que foram às ruas com a camisa da CBF? E descobriram, agora, que, ao contrário da campanha do pato amarelo da FIESP, eles é que estão pagando o pato do desemprego, da estagnação e do retrocesso do Brasil pós-golpe. E o pior: boa parte desses vão para o colo da a extrema-direita. A pesquisa Datafolha mostra que o povo tem consciência crítica do que aconteceu, bem como condena a irresponsabilidade de se subordinar instituições a favor de uma elite contrária aos interesses nacionais. Em tempo: o documentário que em breve estará nos cinemas de Ribeirão – O Processo -, um filme de Maria Augusta Ramos, mostra de forma impecável os bastidores do golpe. Assistam!
(Texto originalmente publicado no jornal Tribuna de Ribeirão Preto, SP)