Esta foto se refere à antiga capela de São Sebastião, depois matriz, que existiu na Praça XV. Antes de tudo, é uma verdadeira preciosidade histórica! É a única foto de perfil conhecida dessa igreja. Foi publicada apenas três vezes: em um jornal da época, pouco antes da sua demolição em novembro de 1905; no meu livro “Ribeirão Preto Revisitada” em 2016; e, agora, pelo jornal TRIBUNA. Ela foi encontrada entre os “achados” surpreendentes no acervo documental do falecido historiador Pedro Miranda, que sua família doou ao Arquivo Municipal e Histórico de Ribeirão Preto em 2003.
Da constituição do patrimônio à construção da capela
Temos toda uma história pregressa, antes de se iniciar a construção dessa capela. A princípio, em 1856, constituiu-se o patrimônio da Igreja formado pela doação de glebas por seis fazendeiros na fazenda Barra do Retiro. Como resultado disso, até hoje temos o pagamento do laudêmio nas transações imobiliárias na região central da cidade. Mas a escolha do local para a sua construção, dentro do patrimônio, foi feita somente em 1863 pelo vigário de São Simão, Pe. Manoel Eusébio de Azevedo, cumprindo ordens superiores do vigário da vara.
Ainda assim, a demora para se iniciar a construção da capela se explica pela falta de recursos. Contudo, um donativo de 360$000, no testamento de Maria Felizarda, permitiu o início das obras, em fevereiro de 1865. O pagamento dessa doação ao fabriqueiro (zelador dos bens da igreja) foi feito a contragosto pelo viúvo, José Borges da Costa. Ele era, na verdade, seu segundo marido. Felizarda casou-se antes com Manoel José dos Reis. Em janeiro de 1868, a capela já podia abrigar algumas cerimônias. Mas sua conclusão definitiva ainda demorou uns dois anos.
Quando um carro de boi era medida de compra e venda
Outro “achado” surpreendente, no meio dos documentos guardados por Pedro Miranda, foi o livro de contabilidade, em que estavam registradas toda a receita e a despesa de construção dessa igreja. Outra verdadeira preciosidade histórica! Assim, entram na receita doações dos fiéis em dinheiro e em espécie, como dois garrotes no valor de 25$000, oito frangos no valor de $700, um par de brincos e um alfinete de ouro, um carro (de boi) de milho do Sr. Francisco Roiz de Faria e um capado avaliado em 10$500. Tudo como doações a São Sebastião! Essas ofertas em espécie eram, com certeza, leiloadas, e todo o dinheiro apurado era empregado na construção da capela.
Até os mortos na contabilidade da igreja
Essas anotações iniciam-se em 12/02/1865 com a seguinte declaração: “Peguei da venda do Sr. José Antônio Pereira 700 pregos para a obra da igreja”. As anotações encerram-se em 10/08/1870. Nesse sentido, as despesas referem-se claramente à obra de construção, cujo empreiteiro responsável foi Jerônimo Pinto da Silva. Além disso, a maior parte dos pagamentos vem assinada por Bernardo Alves Pereira, fabriqueiro nomeado após o assassinato de Manoel Fernandes do Nascimento em 07/12/1866. Também assinavam o procurador Antônio Maciel de Pontes e Ignácio Bruno da Costa, um dos doadores do patrimônio há mais de dez anos.
Por outro lado, eram também parte importante da receita o pagamento pelos sepultamentos no cemitério que ficava aos fundos da capela. Estão ali 284 sepultamentos realizados entre 19/10/1867 e 14/06/1870. Mas chama a atenção a idade de alguns falecidos: Antônio Martins com 115 anos, morto por hidrofisia em 20/10/1867, e Manoel de Oliveira Pontes com 124 anos, falecido de “velhice” em 15/06/1868, e enterrado gratuitamente por ser pobre. Por fim, é bom que se informe que cada sepultamento custava 3$000 e somente os pobres não pagavam. Pois é… até os mortos ajudaram na construção da capela de São Sebastião!
O jornal TRIBUNA publicou originalmente este artigo na sua edição do dia 25 de junho de 2022.
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